Autojulgamento!

COMO LIDAR COM O AUTOJULGAMENTO.

A orientação para “nos tornarmos” seres humanos, totalmente conscientes de nós mesmos enquanto pessoas, acontece por causa do autojulgamento. O autojulgamento é inevitável. Quando me torno consciente de mim mesmo, preciso me “vestir” com uma identidade.

Ser o que sou me dá essa identidade. Portanto, ser o que sou deriva de um julgamento, que pode estar certo ou errado, e que irá determinar a maneira em que vivo minha vida. A base deste julgamento é inevitável. Na construção da própria identidade existem características comuns a todos: o papel que o corpo representa, por exemplo, é fundamental e predomina nessa construção da ideia que nutrimos de nós mesmos.

Também as relações, o conhecimento, a força, a habilidade, a cultura, a religião, a ideia de nação: estas características constroém aquilo que somos. Isso é universal. Se alguém disser “sou indiano de Tamil Nadu”, a pessoa terá certo conhecimento e modos de comportamento, hábitos culinários, religião e outras características culturais. Essa é a base comum a todas as pessoas daquela região.

Depois vêm as características individuais associadas ao complexo corpomente, que determinam a autoidentidade, as ações e as características da vida no tempo-espaço. Esse é o indivíduo. Até mesmo no caso de gêmeos idênticos, as impressões digitais, o código genético, etc., serão diferentes.

Deve haver certas conclusões sobre os indivíduos, que são universais; por exemplo: “estou sujeito a nascimento e morte”, ou “tenho um período limitado de vida”. Durante esta vida, estou sujeito a doença, envelhecimento e morte. Estas são conclusões verdadeiras e inevitáveis, objetivas. Não são opiniões.

Estou sujeito ao medo, ao sentimento de insegurança, ansiedade, culpa, não aceitação de mim mesmo. Embora eu seja livre para realizar os meus desejos, nem sempre sou capaz de fazer isso. O mesmo vale para o conhecimento, a memória, a minha capacidade de fazer dinheiro, etc.

Portanto, me vejo buscando, querendo coisas: quero ser mais alto e uso sapatos de plataforma, o que torna difícil o caminhar. Quero ser diferente, modificar o que tenho. No entanto, macacos não tem esses problemas. Você não pode dizer para os macacos que você é melhor que eles, porque você evoluiu. Eles vão rir de você.

Então, você volta a ser macaco ou resolve este problema. A evolução não pode ser programada. Quando você recebe a liberdade de conhecer, desejar, etc., as faculdades para se conseguir isso são dadas para você ao mesmo tempo. Os macacos não têm esses problemas porque não se auto-julgam. Por isso não usam jeans, nem fazem fila na frente do consulado americano, como os engenheiros de computação indianos. Os macacos ficam felizes na Índia. Só os humanos são infelizes sendo o que são, o que inclui morar onde moram. Portanto, o problema do humano é de fato dele ser um humano!

Todos os organismos são dotados de instinto de sobrevivência. Isso implica a existência de energia que precisa vir de fora, na forma de alimento. Não vonseguimos produzir comida. Apenas nos alimentar. Assim começa a cadeia alimentar, que está baseada nos microorganismos e plantas. Os herbívoros buscam plantas e água. Os carnívoros precisam sobreviver e também vão às pradarias, porque a comida deles está lá.

Quando olhamos para os animais herbívoros, vemos que há algo diferente em relação a eles. Os predadores só precisam achar sua comida, enquanto que, os herbívoros não só precisam buscar a comida mas também se defender dos predadores. Eles têm, então, duas responsabilidades. Os humanos também têm essas responsabilidades: buscar comida, abrigo, proteção contra insetos, bactérias e tudo o que for hostil. Além do mais, precisam se proteger deles mesmos, além de se proteger dos demais.

Precisamos aprender a lidar de maneira equánime com o autojulgamento. Se pudermos fazer isso inteligentemente estaremos preparados para viver a vida. Noutras palavras, lidar com equanimidade com todos os problemas centrados na pessoa: o problema da não aceitação, o da inadequação, o do medo, o de se sentir insignificante, a dificuldade em lidar com o desejo de nos tornar diferentes do que somos e outros. Se pudermos lidar com isso tudo de maneira inteligente e tranquila, aceitando a ordem psicológica como ela é, seremos mais felizes e poderemos dizer que há uma direção significativa em nossas vidas.

Swāmi Dayānanda.

Tradução de Pedro Kupfer a partir de uma palestra de Swāmijī proferida em março de 2006 em Rishikesh, no Dayānanda Āśram

Swami

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