“Tocar como uma mãe tocaria um filho”
Este é um trecho do livro Anticâncer que descreve a experiência de uma pessoa doente ao receber uma massagem como parte do seu tratamento. Eu sempre reforço o ensinamento para os terapeutas do Sim Yoga: o que faz a diferença no tratamento com massagem ayurvedica não é simplesmente fazer as manobras no corpo de alguém como quem segue uma cartilha ou está cumprindo um trabalho, mas sim estar totalmente presente com humildade e amor. O amor fraterno por um ser que está totalmente exposto e nas nossas mãos. O toque é uma forma muito antiga de estimular e abrir canais de cura. Ter o corpo de alguém para tocar com respeito e carinho é um grande privilégio que nos foi dado!
Um toque seguido de um abraço cheio de energia para você!
Simone Saavedra
“Quando chegou a Commonweal Center na Califórnia para um retiro de sete dias, ela estava esgotada.
Após várias intervenções cirúrgicas, quimioterapia e radioterapia, sentiu que nada lhe fora poupado.
Eles me dilaceraram, me envenenaram, e depois me queimaram, e ala resumia seus tratamentos ao que tinha de mais brutal e às marcas que tinham sido impressas na sua carne. Ela nunca mais se olhara no espelho. Cicatrizes no lugar dos seios, membros descarnados, a tez cinzenta, aquela visão assutadora mergulhava-a no abatimento
Massagens fazia parte do tratamento, mas quando chegou a hora, ela teve dificuldade para se despir. Como não se repugnar com seu aspecto? Quem poderia ter vontade de tocá-la? Mas a luz era velada, os óleos essencias desprendiam um perfume de pureza, e Michelle tinha um sorriso doce e uma expressão atenta ao escutá-la falar de seu embaraço. Linda terminou aceitando se deitar- coberta com um leçol leve e mostrando apenas as costas sobre a mesa de massagem. As mãos de Michelle primeiro pousaram sobre a sua cabeça para massagear delicadamente as têmporas e o couro cabeludo. Linda se descontraiu. Pouco a pouco foi criando confiança para se virar e expor o torso. Michele então pousou uma das mãos, suave, forte, tranquilizadora, acima de seu coração, sobre a cicatriz que substituía o seio esquerdo. E a deixou alí alguns minutos sem mexer, concentrada, presente. Linda sentiu aquela mão tão calmante, e alguma coisa nela se revolveu. Imperceptivelmente, depois cada vez com mais força, um imenso soluço subiu de suas entranhas. Então Linda segurou a mão de Michele como uma criança não quer mais que a sua mãe a deixe.
Submersa na solidão daqueles longos meses de tratamento, Linda sentia outra vez o medo que tivera que conter por tanto tempo, misturado a uma imensa ternura por aquele corpo tão machucado que havia resistido bravamente. Michelle não se mexera, não falara. E, tão misteriosamente quanto tinham vindo, os soluços desapareceram. No lugar deles, Linda sentia agora uma grande calma e um calor no peito que ela acolhia como o sol depois da tempestade. Michelle não falou quase nada, a não ser: ” Seu rosto recuperou as cores, suas bochechas agora estão rosadas”. Depois, antes de se separarem, elas ficaram abraçadas durante um minuto.
Michael Lerner e a Drª Rachel Naomi Remen, que juntos dirigem o Commonweal Center, dão uma grande importância à massagem que integraram totalmente no seu programa.
O “Toque”, explica Dra. Remen “é uma maneira muito antiga de tratar. Tocar como uma mãe tocaria um filho. Através do toque uma mãe diz ao filho: “Viva”. Alguma coisa no toque reforça o nosso desejo de viver. “Cuidar” é invocar o desejo de viver no outro. Trata-se não tanto de fazer alguma coisa por ele, mas de lhe fazer sentir que a sua dor, seu sofrimento e seu medo tem importância. Que tem importância de fato.
Anticâncer – David Servan-Screiber